Um momento de reflexão para as empresas

Outro dia, conversando com um colega de atividade sobre Coronavírus, fui surpreendido por uma pergunta: “você já pensou em escrever algo sobre o momento que estamos passando?”.  Pensei em um momento de reflexão para as empresas.

Surpreendido porque me dei conta de que estava refém de um bombardeio ininterrupto de informações, em sua maioria sem fundamentação científica e que patrocinam o terror quando deveriam servir ao medo. Ao medo porque este nos leva a ter disciplina, a observar recomendações técnicas de comportamento, a atentar para o que sugerem as autoridades sanitárias e, por fim, pensar com racionalidade. O terror, intoxica, paralisa e nos empurra para o caminho da emoção. Mas nem todos conseguem transitar somente no campo do medo. Não importa por qual motivo. Trata-se de tema de saúde mental.

O mundo já passou por inúmeras guerras, depressões econômicas, pandemias, epidemias, com enorme impacto na vida das pessoas, social e economicamente. No Brasil, passamos várias crises econômicas, causando enorme desorganização na vida das pessoas e empresas. Lembro do confisco e congelamento de preços. Assim como em 2008, voltamos em 2020 a ficar mais keynesianos, para desconforto dos liberais e “neoliberais”.

Os mercados podem desaquecer em decorrência de momentos como este. E irão. O tamanho do tombo não sabemos, porém ninguém duvida que será grande. A luta está sendo travada contra um inimigo cujo comportamento a ciência tem pouco conhecimento. Está tentando mapear e aprender.

Se mercados desaquecerão, podemos ter certeza de que não desaparecerão. Players irão, sim, descontinuar, ao contrário do mercado. Não importa quão longa será esta batalha, todos precisam comer, vestir-se, divertir-se, mover-se.

O vírus tem causado o falecimento, em sua grande maioria, de idosos, e especialmente daqueles com saúde prévia e cronicamente comprometida. Na economia, a pandemia irá provocar o falecimento de empresas, primeiramente daquelas com saúde financeira previamente comprometida. A pandemia irá acelerar um processo que já era degenerativo e que em condições normais poderia, talvez, levar um tempo maior.

Vem na lembrança o choque promovido pelo Plano Real. Confrontou o universo empresarial com novos paradigmas e explicitou ineficiências que antes eram encobertas pela inflação. Empresas se viram diante de um desafio e tiveram que se repensar, revisitar seus processos se quisessem dar continuidade em suas atividades.

A pandemia do Coronavírus tem levantado a suspeita de que hábitos até então considerados normais, poderão ser redesenhados, talvez trocados. Então o que será o novo normal ?  Como será o comportamento dos consumidores ? Que impacto esta nova onda irá causar nas empresas. Como elas estão se preparando para ter a melhor leitura e promover as mudanças necessárias internamente, se adequarem ao novo normal ?

Em meio a tantas frustrações (o ser humano convive bem com a esperança, desde que ela tenha data de validade) e questionamentos causados por esta pandemia, poderá estar aí, justamente aí, o lado positivo e que desperta enorme curiosidade. Estamos rompendo com velhos e jovens paradigmas, e “no fórceps” sendo obrigados a navegar em mares que antes virávamos o rosto, por comodidade, por resistência, por ambas, não sei. Para onde vamos, qual o novo formato ?

Apenas para citar um deles, o trabalho em casa nos levará ao entendimento de que muitos atores no dia a dia das empresas podem trabalhar a distância, em modo remoto. Então a estrutura existente não necessitará ser a mesma. Quais as métricas para medir a produtividade daqueles em modo remoto ?  Novas capacitações para produzir em modo remoto serão demandadas. Isto sem falar nas ferramentas que oportunizam reuniões virtuais, antes consideradas segunda opção, agora única alternativa e que mostram eficácia. Quantos questionamentos! Que fantástico!

Porém, o momento é para quase total foco em CAIXA. Quase total ?! Sim, quase total. Me permitam sugerir destinar parte do tempo para entender como este “novo normal” demandará de nossas empresas e como poderemos responder. Grandes empresas têm governança e transparência. Conseguem mobilizar e engajar suas equipes. Afinal todos estão remando em uma mesma direção. Tem indicadores e acesso fácil ao crédito.

Média e pequenas empresas não tem governança, são pouco transparentes, tem dificuldade de entender a importância de engajar suas equipes e não tem indicadores que acionem o apetite do sistema financeiro para conceder crédito. Mas é neste universo que achamos o maior gerador de empregos e renda. É aí que encontramos o grande mercado consumidor, alvo também das grandes empresas.

Cuidem-se, resguardem-se e procurem fazer seu “isolamento social”. Busquem por ajuda e diagnóstico de especialistas que as auxiliem a pensar, a entender as mudanças exteriores e como transformar e adequar seu processo interno aos possíveis desenhos de um mercado diferente, com mesmos desejos, talvez redesenhados. Trabalhem a melhoria da governança e transparência. Construam um protocolo de saída para um novo momento.

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Ricardo Maltz

Ricardo Maltz

Mestre em Gestão Empresarial pela FGV-EBAPE RJ, Consultor em Gestão Empresarial com foco em reestruturação. Atua como Membro de Conselho Fiscal de empresas.